30 de junho de 2015

Samba Amarelo

Para os amigos Lupiteiros

            “Apenas apanhei na beira mar um táxi pra estação lunar.” Começo dizendo que, embora eu cite a música dos três mestres nordestinos, o táxi era tão real quanto eu. Amarelo, marcas em azul e um taxímetro em que o preço subia e subia… E nós descíamos de Santa Teresa, enquanto pensávamos no que a noite nos reservava. Despretensiosos, os cinco se amontoaram no carro do taxista mais legal do mundo. Nos sentimos tão felizes como se tivéssemos pegado um trem para um reino encantado, sem nos importar, pela primeira vez, com a falta do bondinho charmoso.

            Uma corrida que foi tão corrida quanto podíamos esperar. Ao final, a vontade de ficar rodando pelo Rio todo. “Leva a gente pra todos os lugares!” Um dos nossos amigos brincou “Vamos fazer a festa por aqui mesmo!”. Mas tínhamos que ir e o momento virou memória.
            Bom, o motivo era legítimo. Eu juro! O fato é que tudo começou quando tentávamos sair do bairro de casinhas adoráveis. E eu prometo, descer é tão difícil quanto subir, em especial numa noite tão escura… Mas o taxista foi bondoso demais e aceitou os cinco. Quatro amontoados atrás e o mais alto de todos, de um metro e oitenta, na frente.
            O caminho foi muito mais incrível que a noite. O taxista nos contou as suas histórias. Tratavam-se de contos e crônicas, dignas de autores afoitos por relatos belos. Ele era escritor, tinha até um livro, no qual narrava as suas aventuras, como as nossas, com os seus passageiros.
            A surpresa veio em seguida, o homem nos contou que também era músico. E compusera um samba sobre um táxi que rodava pelo Rio de Janeiro inteiro, em que a comissão de frente, no carnaval carioca, seria o Copacabana Palace. Uma beleza de música, com versos que nos libertavam de nós mesmos e nos faziam dançar bonito.
A história não acabou por ali, ele logo colocou o samba. Antes que nos déssemos conta, apagávamos e acendíamos as luzes do carro, enquanto nos deixávamos sambar dentro de um táxi amarelo. “Brasil, esquentai vossos pandeiros,  iluminai os terreiros, que nós queremos sambar”. E como todo brasileiro, tínhamos lá nossas fraquezas. Somos apaixonados pelo tambor e pela roda de gente que dança sorrindo e cantando.
Avistando a vista do Aterro, nos sentimos em festa. Tão alegres, aquela foi a melhor dança que tivemos, mesmo que sentados. E te digo: sambar em um táxi é uma experiência única. Aliás, vamos combinar: sambar em qualquer lugar é maravilhoso. Em especial no Rio, porque não existe povo que tenha gingado melhor.

0 comentários:

Postar um comentário