É meio dia e o sol fraco. Julho
chegou, mas as férias estão um pouco atrasadas. Dezenas de pessoas se esbarram
e desviam. Os olhares e os corpos. A luz incide em alguns prédios. A sombra
toma conta de quase tudo. Muitas mulheres e homens usam casacos. Não está frio.
Fresco. Essa é a minha definição. Insisto no short e na blusa. Mania de quem
morou dois anos no Rio de Janeiro. Seguro o celular como um escudo, enquanto
teclo com amigos ausentes. Aguardo uma velha companheira. Ao mesmo tempo, olho
para o relógio do Parque Halfeld e para o calçadão que se estende, cheio...
Cadê o chão? Nem dá para ver direito. Respiro fundo. Um ar mineiro. Desses que
pedem um café. Tudo cheira a aconchego. É por isso que eu sinto falta. Dessa
cidade grande que parece pequena. Porque conserva as características de um
interior que avança para além. Mas não perde, mesmo assim, aquilo que a define.
O gosto de chocolate quente. A vontade de ficar na coberta olhando os carros
passando com uma calma viva. Gosto dessa falta de fumaça.
Juiz
de Fora. Juízo de Fora. Juízo dentro, mas de fora. Juízo que veio de fora. Juiz
que trouxe o juízo de fora. Nomezinho infeliz. Mas aí parei para pensar no mau
juízo que fiz, durante catorze anos desse dentro. E aí fui pra fora, abandonei
o que era meu, voltei e trouxe um juízo novo de fora. A saudade. A cidade podia
mesmo era chamar Saudade de Fora. Mas ela não é de fora... É de dentro. Saudade
de Dentro? Ou Saudade do Juízo? Que seja! Fiquemos com o Juiz de Fora, o
tradicional. 162 anos desde a vinda desse tal juiz. Juiz esse que nunca
conheci, nem vi foto ou entendi muito bem a sua importância. Mas virou
história. Lenda, até. Dessas que a gente conta, faz hipótese, mas nunca
entende. Vai ver é por isso que o nome é bom. Porque não dá para entender muito
bem essa cidade que puxa pra fora, e quando a gente muda quer voltar para
dentro.
Fui
correr na universidade à noite. Está em greve. Mas os atletas não tiraram
folga. Entregam-se, equipados com fones de ouvidos e seguindo o ritmo da música
enquanto ficam surdos de outros sons. Os carros dão volta em um lago e em um
complexo cheio de coisa. Uma coleção de árvores quase negras, porque não tem
sol para refletir o verde. Só a luz da rua, que não ilumina nem o poste. Está
quase escuro, mas a lua apareceu e invadiu o céu. Não tinha nenhuma estrela. Aí
ela quis ser maior, ocupar mais do que o necessário. Se exibir. Perdi o ritmo.
Quis uma câmera. Não tinha. Fotografia só mental. Um close ali. Fazia tempo que
não via uma bola tão grande no céu. Sentei-me no meio fio olhando. Alguém
buzinou. Pensei que fosse para mim. Não conheço mais tanta gente assim para
sair fazendo sucesso. Sou meio desconhecida. Uma perdida em Juiz de Fora e no
Rio de Janeiro. Consegui o anonimato.
Mais
à noite, vou a um bar com meus amigos. A cerveja não perde o gelo nunca. Os
assuntos não acabam. Ao redor, outros tantos jovens. Universitários e
adolescentes para todos os lados. Nem dá vontade de acabar. Fica um desejo de
permanecer ali, a noite inteira. Sentindo o cheiro do cigarro que não dá
câncer. Só faz mesmo é bem. Porque isso tudo é muito saudável. Essa Juiz de
Fora que cura todo o pessimismo. Que dá uma sensação de casa a céu aberto. E
aí, antes que pudesse me dar conta, sonhei em ficar para sempre. Deixar de ser
só uma passageira que para na praça da estação já pensando na volta. Quero é
desfazer a mala de vez, empilhar as roupas em um armário e me entregar às
noites insones daqueles que não querem dormir oito horas.
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