O
verde engole e envolve o tudo. A estrada fica ali, reservada. Seu cinza
apagado, enquanto carros passam em cima, desejando explorar ainda mais a sua
imensidão. Casas pequenas. Vacas brancas. Árvores. Mato, mato e mato... Nem
vejo o final. Cadê o horizonte? Sumiu... E a gente continua indo e indo em cima
desse carro que não sabe muito bem qual destino tomar. Só segue a estrada,
perdido e guiado por aquele caminho incerto que guarda as surpresas do
Pantanal.
Pássaros
voando. Um, dois, três, quatro. Formavam um V, fazendo barulho e ilustrando o
céu. Persegui, até que foram embora para não mais voltar. Abandonaram os meus
olhos. Com o movimento, me deixei dormir. Acordei em um lugar encantado. Existiam milhares de borboletas, e elas
pousavam em todos nós, enquanto fotos e flashes eram disparados. Tentativa de
eternizar o invisível. As aves cantavam, sem se espantarem muito com a nossa
presença. Tudo era iluminado com o sol e mais nada. A noite reservava a
presença da lua, que ainda refletia certa luminosidade, mas apenas o bastante
para fazer nossos olhos se acostumarem.
As
estrelas decoravam o céu, formavam um caminho branco, a via láctea. Deitei no
barco, sem saber onde estava. Não podia ser o nosso planeta, a nossa casa. Era
mais. Fechei os olhos, enquanto tentava memorizar o instante. Esqueci rápido o
imensurável. Não tinha como lembrar. Logo já me via espiando, tentando contar
todas, perceber os nomes, lembrar os detalhes. Falaram do Cruzeiro do Sul, que
apontava e mostrava a direção, e então o vi. Navegávamos, seguindo um caminho
que ora coincidia com a sua indicação e ora desrespeitava. Ele ficava ali,
vitorioso e brilhando. Devia olhar para nós lá de cima, tentar nos contar e
guardar as características. Do jeito que fazíamos. Uma ironia constelar.
Fiz
três pedidos. Um para cada estrela cadente. A azul despencou, depois a
verde e a amarela. Caíram e sumiram no horizonte,
formando uma faísca em nossos olhos que perdurava... Ao nosso lado, pássaros
descansavam em galhos e jacarés ficavam imóveis, com apenas a cabeça à mostra,
movidos pela curiosidade. A gente também os via, quase caindo do barco, de
tanto esticar o pescoço. Os olhos deles à mostra, cientes de nossa presença,
mas sem atacar. Ah, se você estivesse
fora desse navio. Deviam pensar. Porque o bote deles era pequeno demais
para aquela embarcação.
Tudo
estava preto. Um silêncio quase total. O barco avançava lento, tentando
acompanhar a calmaria. O céu se clareava pouco a pouco, e a lua se despedia
dele. O sol se preparava, emergia lentamente das águas ainda escuras do rio, pronto
para iniciar o show e ocultar as outras estrelas. “A casa está cheia hoje,
chefe.” Uma nuvem comentou. E ele logo se inflou todo, preparando-se até que o
vento lhe soprasse um aviso final.
Luzes
surgiram, com raios irradiando atrás de nuvens e invadindo o céu. O sol nascia.
Olhei para frente e estava colorido. A bola vermelha pintava com a sua cor.
Azul misturado com laranja em uma aquarela imensa. Alguns pássaros já se
levantavam, tentando tirar um pouco da cara de sono voando por aí.
Quando
o sol já estava no alto, flashes foram disparados, tentando copiar aquilo tudo.
Fotógrafos ganhavam a fama de artistas, enquanto a estrela amarela era a
principal. Dava vontade de ficar ali, caçando animais com uma câmera e
escrevendo as suas músicas em um papel. O bom mesmo seria deitar sobre uma grama
dessas para sempre, vendo o Cruzeiro do Sul ao longe, enquanto o verde abraçava
e não deixava ir embora.
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