4 de julho de 2012

Sonho de cores


O verde engole e envolve o tudo. A estrada fica ali, reservada. Seu cinza apagado, enquanto carros passam em cima, desejando explorar ainda mais a sua imensidão. Casas pequenas. Vacas brancas. Árvores. Mato, mato e mato... Nem vejo o final. Cadê o horizonte? Sumiu... E a gente continua indo e indo em cima desse carro que não sabe muito bem qual destino tomar. Só segue a estrada, perdido e guiado por aquele caminho incerto que guarda as surpresas do Pantanal.

Pássaros voando. Um, dois, três, quatro. Formavam um V, fazendo barulho e ilustrando o céu. Persegui, até que foram embora para não mais voltar. Abandonaram os meus olhos. Com o movimento, me deixei dormir. Acordei em um lugar encantado.  Existiam milhares de borboletas, e elas pousavam em todos nós, enquanto fotos e flashes eram disparados. Tentativa de eternizar o invisível. As aves cantavam, sem se espantarem muito com a nossa presença. Tudo era iluminado com o sol e mais nada. A noite reservava a presença da lua, que ainda refletia certa luminosidade, mas apenas o bastante para fazer nossos olhos se acostumarem.
As estrelas decoravam o céu, formavam um caminho branco, a via láctea. Deitei no barco, sem saber onde estava. Não podia ser o nosso planeta, a nossa casa. Era mais. Fechei os olhos, enquanto tentava memorizar o instante. Esqueci rápido o imensurável. Não tinha como lembrar. Logo já me via espiando, tentando contar todas, perceber os nomes, lembrar os detalhes. Falaram do Cruzeiro do Sul, que apontava e mostrava a direção, e então o vi. Navegávamos, seguindo um caminho que ora coincidia com a sua indicação e ora desrespeitava. Ele ficava ali, vitorioso e brilhando. Devia olhar para nós lá de cima, tentar nos contar e guardar as características. Do jeito que fazíamos. Uma ironia constelar.
Fiz três pedidos. Um para cada estrela cadente. A azul despencou, depois a verde e a amarela. Caíram e sumiram  no horizonte, formando uma faísca em nossos olhos que perdurava... Ao nosso lado, pássaros descansavam em galhos e jacarés ficavam imóveis, com apenas a cabeça à mostra, movidos pela curiosidade. A gente também os via, quase caindo do barco, de tanto esticar o pescoço. Os olhos deles à mostra, cientes de nossa presença, mas sem atacar. Ah, se você estivesse fora desse navio. Deviam pensar. Porque o bote deles era pequeno demais para aquela embarcação.
Tudo estava preto. Um silêncio quase total. O barco avançava lento, tentando acompanhar a calmaria. O céu se clareava pouco a pouco, e a lua se despedia dele. O sol se preparava, emergia lentamente das águas ainda escuras do rio, pronto para iniciar o show e ocultar as outras estrelas. “A casa está cheia hoje, chefe.” Uma nuvem comentou. E ele logo se inflou todo, preparando-se até que o vento lhe soprasse um aviso final.
Luzes surgiram, com raios irradiando atrás de nuvens e invadindo o céu. O sol nascia. Olhei para frente e estava colorido. A bola vermelha pintava com a sua cor. Azul misturado com laranja em uma aquarela imensa. Alguns pássaros já se levantavam, tentando tirar um pouco da cara de sono voando por aí.
Quando o sol já estava no alto, flashes foram disparados, tentando copiar aquilo tudo. Fotógrafos ganhavam a fama de artistas, enquanto a estrela amarela era a principal. Dava vontade de ficar ali, caçando animais com uma câmera e escrevendo as suas músicas em um papel. O bom mesmo seria deitar sobre uma grama dessas para sempre, vendo o Cruzeiro do Sul ao longe, enquanto o verde abraçava e não deixava ir embora.


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