22 de março de 2015

Bolhas em azul

Disseram que seria como num sonho. Mergulhei, então, por entre visões oníricas, quando me afundei em gotas de azul. Como se não houvesse limites, nadei me esquecendo que não haveria ar. E assim, me fiz companhia de peixes, num cenário de elemento calcário. Quantos mil litros saíam dali? Pareciam brotar seres diversos e de muitos tamanhos. Todos eles saindo daquele buraco tão grande… Prendi a respiração, sem fôlego. Poderia soltar o ar ali mesmo e deixar a água entrar. Fechei os olhos e abri para ver de novo. O cenário permanecia. Água saindo de uma fenda, uma nascente azul de tantas belezas várias.
Dizem que escritor é louco. Mas eu juro que isso aconteceu. Fui descendo o rio e escutando os peixes conversarem. Chamavam a nós, visitantes, de estranhos. Esses mascarados esquisitos seriam extra terrestres? Ri, então, da indagação. E foi aí que um deles me disse: “Você está rindo do quê?”
Respondi: “De vocês, ora.” E eles, todos eles, se viraram contra mim. Um cardume todo cheio de peixes me olhando, quando o guia me disse que não os devia perseguir. Mas eu não os seguia. Eles não fugiam, permaneciam curiosos com a presença de alguém que pronunciava a língua deles. E eu lá sabia o que estava acontecendo? Surgia, sei lá, uma conexão maluca. E eu de repente os explicava o que era o mundo. A diferença entre espécies, o que eram os humanos e o que fazíamos ali. Eles de nada entendiam. Queriam saber só de nadar e comer. E tampouco viam beleza neles mesmos. Só sabiam que nós éramos feios demais.
“Não há nada de novo aqui em baixo, é tudo tão comum…” Disseram eles. “Como é lá na superfície?” Contei, então, das estrelas e do ar. Contei sobre tudo o que podia me lembrar. E disse o quanto aquilo tudo era surreal para mim. “Você não conversa o tempo todo com os bichos?” Aí me lembrei que já tinha falado com cachorros, gatos, cavalos e vacas. Mas peixe nunca. Uma vez tive um beta, mas ele só ficava me olhando sem falar nada. Até que o encontrei morto.
Uma vez falei com uma formiga, mas foi muito rápido. Ela só me disse que tinha pressa, porque estava atrasada. Pensei, naquele momento, como uma formiga poderia ter noção do tempo. Aí fiquei vendo ela ir embora toda lenta, e quase perguntei se ela queria uma carona, mas deixei quieto.
Até que cheguei ao final do rio e foram todos tirando as máscaras e saindo de lá. Fiquei me perguntando se eu tinha virado peixe, mas aí me disseram pra eu andar logo, que ia começar a chover. Nunca contei pra ninguém que conversei com peixes, então esse texto vira conto, porque aí ninguém vai achar que é verdade. Só sei que sinto muita saudade daquele rio todo cheio de seres diversos. Peixe é mais inteligente que gente, isso eu posso dizer.

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