20 de abril de 2012

Sexta-feira 13

– Escreve lá uma crônica sobre isso, mulher.

Era uma sexta-feira treze, dessas dignas do número. Fazia um calor mais do que intenso, ressaltando o inferno que a data sugeria. Talvez fosse um preparatório, sei lá. Um dos amigos atreveu-se a afirmar. “Lá em baixo é pior, deve ser treinamento”. Dito isso, a fumaça saiu da van, colorindo a frente, contrastando com a brancura da pintura. E todos puseram-se a gritar, amedrontados. “Deve ser maldição!” Claro que tudo não passava da brincadeira inocente, causada pelo caos do dia. Os carros enfileiravam-se em um engarrafamento organizado, desses de fila indiana, sem muita vontade de desobediência. A hora já passava das seis, e os pobres meninos agonizavam com os minutos que corriam, temerosos da consequência do atraso.


O dia até tinha sido especial. Mais ou menos uma centena e meia de alunos foram levados para uma universidade renomada do Rio de Janeiro. A promessa era a da vivência de um período naquele universo todo, com direito a palestras de setores diversos, garantindo a escolha profissional. Ao chegar, a dura realidade. Sete mil e quinhentos jovens espalhados e comprimidos, debatendo-se em uma guerra silenciosa visando espaço e vagas nas aulas diversas. O suor escorria, e o ar condicionado se tornava um prêmio para aqueles que conquistavam uma brecha qualquer.

– Conseguiu uma vaga na palestra de Comunicação Social? – um dos estudantes perguntou a outro, nos breves encontros que a coincidência deixava – Uma fila..

– Consegui sim! – o ar de vitória, como o de alguém que ganha um prêmio – Maravilhosa! Acho que vou fazer Cinema.

– Colegas se parabenizavam pela escolha profissional. Outros ficavam ainda mais perdidos, com a interrogação nos olhos.

– E você, Carlos? Decidiu?

– Só serviu para me confundir ainda mais... – e mudava de assunto, tentando não pensar no tempo que teimava em passar para a mais maldita das datas, o chamado vestibular.

Deu cinco horas e todos se reencontraram, para apanhar o ônibus. Quarenta e cinco alunos se amontoaram em um, e os outros permaneceram de pé, debaixo do sol quente, em um forno que esquentava cada vez mais. Até que chegou outro, acompanhado por uma van. Trinta foram no veículo maior, e quinze se aventuraram no menor, despedindo-se dos restantes. Lá dentro do pequeno, o calor só piorava. Culpa do ar condicionado que só ventilava, e nada refrescava.

– Abre logo a janela, vai ver melhora alguma coisa – alguns sugeriam, em uma esperança vã, que se comprovaria uma inutilidade.

– Deve ser treinamento pro inferno! – um dos engraçadinhos atreveu-se a falar, fazendo referência à sexta-feira treze, que até aquele momento tornara piada.

E diante da denúncia, como se o espírito estivesse presente, começou a sair do capô a fumaça. Nesse meio tempo, a professora reclamava, ao telefone, da companhia de turismo, do calor, da demora, e por fim, do estrago. Pararam depois do viaduto, e para completar houve um guarda que até ameaçou multar. Se multou mesmo, ninguém sabe. Torciam que sim, para que a maldita empresa terceirizada aprendesse.

A professora, então, naquele misto de raiva e calma, ligou para o outro grupo, que ainda esperava desafortunado na universidade. “Vem buscar a gente quando passar aqui. É melhor todo mundo ir espremido do que esperar.” O ônibus surgiu minutos depois. O motorista da van ficou lá, abandonado, desafortunado e amaldiçoado pela falta de capital empregado e a competência de outros. Os alunos riram-se, e em uma brincadeira que beirava a ironia, gritaram lá no ônibus: “Boa noite! Que noite maravilhosa, heim?!” E puseram-se a dormir, guardando os diálogos próximos para mais tarde.

1 comentários:

Deborah disse...

Senti o clima, quase suei. Gostei muito, bela.

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