Era
uma sexta-feira treze, dessas dignas do número. Fazia um calor mais
do que intenso, ressaltando o inferno que a data sugeria. Talvez
fosse um preparatório, sei lá. Um dos amigos atreveu-se a afirmar.
“Lá em baixo é pior, deve ser treinamento”. Dito isso, a fumaça
saiu da van, colorindo a frente, contrastando com a brancura da
pintura. E todos puseram-se a gritar, amedrontados. “Deve ser
maldição!” Claro que tudo não passava da brincadeira inocente,
causada pelo caos do dia. Os carros enfileiravam-se em um
engarrafamento organizado, desses de fila indiana, sem muita vontade
de desobediência. A hora já passava das seis, e os pobres meninos
agonizavam com os minutos que corriam, temerosos da consequência do
atraso.
O
dia até tinha sido especial. Mais ou menos uma centena e meia de
alunos foram levados para uma universidade renomada do Rio de
Janeiro. A promessa era a da vivência de um período naquele
universo todo, com direito a palestras de setores diversos,
garantindo a escolha profissional. Ao chegar, a dura realidade. Sete
mil e quinhentos jovens espalhados e comprimidos, debatendo-se em uma
guerra silenciosa visando espaço e vagas nas aulas diversas. O suor
escorria, e o ar condicionado se tornava um prêmio para aqueles que
conquistavam uma brecha qualquer.
– Conseguiu
uma vaga na palestra de Comunicação Social? –
um dos estudantes perguntou a outro, nos breves encontros que a
coincidência deixava –
Uma fila..
– Consegui
sim! – o ar de vitória,
como o de alguém que ganha um prêmio –
Maravilhosa! Acho que vou fazer Cinema.
– Colegas
se parabenizavam pela escolha profissional. Outros ficavam ainda
mais perdidos, com a interrogação nos olhos.
– E você,
Carlos? Decidiu?
– Só serviu
para me confundir ainda mais... – e mudava de assunto, tentando
não pensar no tempo que teimava em passar para a mais maldita das
datas, o chamado vestibular.
Deu cinco
horas e todos se reencontraram, para apanhar o ônibus. Quarenta e
cinco alunos se amontoaram em um, e os outros permaneceram de pé,
debaixo do sol quente, em um forno que esquentava cada vez mais. Até
que chegou outro, acompanhado por uma van. Trinta foram no veículo
maior, e quinze se aventuraram no menor, despedindo-se dos restantes.
Lá dentro do pequeno, o calor só piorava. Culpa do ar condicionado
que só ventilava, e nada refrescava.
– Abre logo
a janela, vai ver melhora alguma coisa – alguns sugeriam, em uma
esperança vã, que se comprovaria uma inutilidade.
– Deve ser
treinamento pro inferno! – um dos engraçadinhos atreveu-se a
falar, fazendo referência à sexta-feira treze, que até aquele
momento tornara piada.
E diante da
denúncia, como se o espírito estivesse presente, começou a sair do
capô a fumaça. Nesse meio tempo, a professora reclamava, ao
telefone, da companhia de turismo, do calor, da demora, e por fim, do
estrago. Pararam depois do viaduto, e para completar houve um guarda
que até ameaçou multar. Se multou mesmo, ninguém sabe. Torciam que
sim, para que a maldita empresa terceirizada aprendesse.
A
professora, então, naquele misto de raiva e calma, ligou para o
outro grupo, que ainda esperava desafortunado na universidade. “Vem
buscar a gente quando passar aqui. É melhor todo mundo ir espremido
do que esperar.” O ônibus surgiu minutos depois. O motorista da
van ficou lá, abandonado, desafortunado e amaldiçoado pela falta de
capital empregado e a competência de outros. Os alunos riram-se, e
em uma brincadeira que beirava a ironia, gritaram lá no ônibus:
“Boa noite! Que noite maravilhosa, heim?!” E puseram-se a dormir,
guardando os diálogos próximos para mais tarde.
1 comentários:
Senti o clima, quase suei. Gostei muito, bela.
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